Eu sou novo, tenho poucos anos de vida. Não sei o que é viver em um tempo de repressão. Um tempo, já antigo, onde as pessoas precisavam tomar cuidado com as palavras para não terem um fim precipitado. Onde se deveria concordar, ou ao menos, obedecer os que tinham “autoridade”, pois os que tinham, tudo podiam fazer com ela justificando.
Eu sou novo, não vivi mas estudei este tempo, assim como todas as futuras gerações estudarão este e o nosso tempo. Diferente do que eu penso, tenho medo do que meus filhos e netos irão pensar da época que eles não viveram. Eu sinto orgulho. Sinto orgulho por saber que antes, quando nem tudo era possível, as pessoas, os jovens, principalmente mostravam um jeito diferente, ousado e muito inteligente de protesto. Não aceitavam as ordens (estúpidas) que lhes eram dadas. Um tempo onde se dava valor à palavra, ou ao direito de tê-la e usá-la. Onde as músicas, além de arranjos, traziam um sentido, um protesto, uma mensagem de indignação. Onde o povo não gostava e não aceitava ser enganado. Onde o cabresto dava nojo, e o pedido de “Diretas” era feito por milhões. Onde a corrupção e os escândalos eram repugnados com “Caras Pintadas” em verde e amarelo, mostrando que o povo ama o Brasil e que não aceita que ninguém o faça de bobo, que ninguém o roube. Um tempo onde a voz, quando usada, fazia soar o certo, a vontade do acerto. Funcionava.
Hoje, parece que o povo aceita todo esse deboche, esta palhaçada, este crime. Vemos fraudes, roubos, escândalos. A corrupção é um sinônimo de política, praticamente. Nada é feito. E pior, ao invés de buscarmos a renovação, a troca, a expulsão destes “seres”, consentimos com tudo isso os mantendo no poder. Antes, sindicalistas, advogados, operários, estudantes, todos. Todos tinham a coragem de lutar contra o errado, o corrupto. O impeachment de Collor é o exemplo. Agora, com escândalos muito maiores, muito mais graves, com provas que toda a população tem acesso: gravações, grampos, etc. Nada fazemos.
Que orgulho eu teria de sair nas ruas protestando contra tudo isto. Que inveja eu tenho dos manifestantes dos anos 80 e 90. Eles foram os responsáveis pela mudança do país, a Democracia plena, com as “Diretas Já!”, pela limpeza da sujeira do Collor, com os “Caras pintadas”. Por fim, que vergonha eu ainda vou sentir, quando meu filho, estudando estas épocas, me perguntar, “Vocês não fizeram nada?” e eu responder, “Não e ainda elegemos eles de novo”.